Este trabalho foi elaborado em grupo e apresentado no seminário de conclusão do curso PNAIC - Pacto Nacional de Alfabetização na Idade Certa - 2013. Núcleo Bandeirante - DF. É uma reflexão sobre ortografia e a importância do seu ensino nas escolas e particularmente nas públicas .
Orientadora:
Kelly Rocha
Cursistas:
Marlene Aparecida de Castro Antinoro
Rosilene Soares dos Santos
Maria Helena de Oliveira
Jeane Gudim Schneider
Escola Pública e o Ensino da Ortografia
Reflexões referendadas na obra de Artur G. de Morais
Ortografia: ensinar e aprender
Ensinar ortografia na escola pública é uma questão. E que grita particularmente no nosso fazer, professoras dos terceiros anos. No último ano do ciclo supõe-se...
Ortografia não é atributo divino! É convenção validada e autorizada pelos meios social, cultural e econômico. Portanto, normas, que atendem aos interesses de um momento histórico, inventadas e reinventadas para acomodar contingências.
Os sistemas de escrita alfabética surgiram antes das normas ortográficas. E no início da aprendizagem da escrita o aluno se apropria do sistema alfabético, como foi demonstrado nas pesquisas da psicogênese da escrita. Logo que domina a base alfabética, percebe que não é o suficiente para dominar a linguagem escrita com suas contradições.
Então, é necessário ensinar à criança como funciona a ortografia, que é uma invenção recente e se reinventa no curso da história. Não ensiná-la nas escolas públicas é legar aos nossos estudantes uma aprendizagem deficitária e excludente. Portanto, relegá-los.
E as normas ortográficas não são pétreas. Mudam. Até bem pouco tempo se escrevia as palavras hipossegmentadas, porque poucas pessoas liam e a oralidade era o meio de comunicação mais corrente. Com o advento da imprensa e para atender a necessidade da leitura silenciosa as palavras passaram a ocupar os seus espaços e foi necessário criar parágrafos e pontuação para dar o ritmo que na oralidade era desempenhada pela voz, gestos e expressões faciais.
Agora mesmo, estamos passando por uma reforma para unificar as normas ortográficas dos países lusófonos e entre eles o Brasil. É uma tentativa de valorizar a Língua Portuguesa e torná-la mais social e economicamente acessíveis. Mais palpável para quem escreve e lê em Português ou precisa aprendê-lo como mais um idioma. Em tempos de globalização, com os meios de comunicação tão desenvolvidos e informando em tempo real, torna-se interessante e necessário como instrumento de poder. Mas, não sem resistência.
Afinal, muitos países falam o Português, mas com seus sotaques prenhes de culturas étnicas nas suas feições e afeições e, sabendo que a língua mãe é identidade, mudá-la mexe com brios e subjetividades de um povo. No entanto, os sotaques de cada etnia permanecerão nas vozes de seus povos. E, sendo assim, na escrita, as normas são instituídas como controle e tentativa de unificação no uso do idioma.
Sabendo que a linguagem escrita é forte instrumento de poder e hoje mais do que sempre, haja vista a quantidade de pessoas que se comunicam virtualmente e por meio dela, são imprescindíveis as questões: É importante ensinar ortografia nas escolas? E quando começar a ensiná-la?
Artur G. de Morais defende que cabe a escola ensinar regras definidas pela sociedade, mas, que antes a criança precisa se apropriar do Sistema de Escrita Alfabética. Compreender a relação grafema/fonema e como se apresenta no interior das palavras, a forma das letras, a direção da escrita na linha e também, principalmente, o conhecimento e funcionamento da escrita. Mas é necessário ir além.
Escrever como se fala poderia parece natural. Mas não é! A escrita é convenção social e cada idioma tem suas peculiaridades normativas que a criança não descobrirá sozinha, portanto, é importante ensiná-la. Quando? Como já citamos e acompanhando o pensamento de Artur, logo que ela se apropriar do Sistema de Escrita Alfabética.
Como? Quando o aprendiz começar a perceber que a escrita apresenta restrições que o Sistema de Escrita Alfabético não dá conta de explicitar e que a ortografia, ou seja, a escrita correta, possui propriedades regulares e irregulares e que essas possuem níveis de dificuldades que ele deverá vivenciar e experimentar para construir a consciência ortográfica e fonológica, relação intrínseca na formação das palavras. Mas é importante ressaltar que essa aprendizagem não é espontânea. É necessária intervenções para mostrar o que ele ainda não conhece.
As regularidades e irregularidades da escrita das palavras estão bem demonstradas e como trabalhá-las têm sugestões interessantes no livro, objeto de nossas reflexões. Ressalva-se que à medida que o aluno vai aprendendo novos conceitos com relação às palavras ele vai construindo subsunçores que o ajudam a justificar as regras ortográficas. Quando ele se apropria da ortografia a sua escrita se torna mais fluida.
Sendo assim, ensina-se ortografia, sempre! Porém, não deverá ser mais importante que o texto escrito com coerência, coesão, estrutura e o objetivo de comunicar o proposto dentro das características de cada gênero textual. Torna-se o escritor e leitor capaz, oferecendo subsídios para esclarecer as suas dúvidas ao longo da sua vida. O dicionário é um instrumento eficaz para tirar dúvidas sobre ortografia e deverá ser apresentado e manuseado logo que o estudante já tiver dominado o Sistema de Escrita Alfabético.
Não se reprova pelos “erros” ortográficos, mas trabalha-se a ortografia que, sendo norma, precisa ser aprendida. O que não tem regra precisa ser memorizado. Como? Uma das boas soluções é ler. O que tem regra pode ser compreendido, com intervenções próprias, levando em conta o que o aluno já sabe. Na dúvida? Consulte qualquer meio de pesquisa. Afinal, pesquisar é uma competência desenvolvida em sala de aula.
E quanto aos textos escritos produzidos pelas crianças! Deve ser corrigido? O que corrigir? Como corrigir? Por que e para quê? Pensemos que se escreve para alguém ler e que o escritor tem apreço pelo que escreve. Como diz o autor do livro, objeto das nossas reflexões, escrita é identidade, espaço de pontos de vista e desejos, por isso, torna-se necessário respeito à autoria. Mas a escrita é feita de normas e para dominá-la é mister conhecer a ortografia e a estrutura que constituem o texto.
Segundo o autor, é mais interessante desenvolver a atitude de escrever melhor lendo, relendo, revisando e reelaborando. E, se possível fazer a correção na presença da criança. Essa preocupação não deverá ser diária e se fará por meio de uma atividade planejada e com esse objetivo.
Concluiremos nossas reflexões com o poema de Pablo Neruda, citado no livro que exploramos e que celebra as virtudes do dicionário e em qualquer língua. Só a poesia e o poeta para quebrarem ranços e preconceitos!
Ode ao dicionário
Pablo Neruda
“Dicionário, não és
tumba, sepulcro, féretro,
túmulo, mausoléu,
senão preservação,
fogo escondido,
plantação de rubis,
perpetuidade viva
da essência, celeiro do idioma”
Escola Pública e o Ensino da Ortografia
Reflexões referendadas na obra de Artur G. de Morais
Ortografia: ensinar e aprender
Ensinar
ortografia na escola pública é uma questão. E que grita particularmente
no nosso fazer, professoras dos terceiros anos. No último ano do ciclo
supõe-se...
Ortografia não
é atributo divino! É convenção validada e autorizada pelos meios social,
cultural e econômico. Portanto, normas, que atendem aos interesses de um momento
histórico, inventadas e reinventadas para acomodar contingências.
Os sistemas de
escrita alfabética surgiram antes das normas ortográficas. E no início da
aprendizagem da escrita o aluno se apropria do sistema alfabético, como foi
demonstrado nas pesquisas da psicogênese da escrita. Logo que domina a base
alfabética, percebe que não é o suficiente para dominar a linguagem escrita com
suas contradições.
Então, é
necessário ensinar à criança como funciona a ortografia, que é uma invenção
recente e se reinventa no curso da história. Não ensiná-la nas escolas públicas
é legar aos nossos estudantes uma aprendizagem deficitária e excludente.
Portanto, relegá-los.
E as normas
ortográficas não são pétreas. Mudam. Até bem pouco tempo se escrevia as
palavras hipossegmentadas, porque poucas pessoas liam e a oralidade era o meio
de comunicação mais corrente. Com o advento da imprensa e para atender a
necessidade da leitura silenciosa as palavras passaram a ocupar os seus espaços
e foi necessário criar parágrafos e pontuação para dar o ritmo que na oralidade
era desempenhada pela voz, gestos e expressões faciais.
Agora mesmo,
estamos passando por uma reforma para unificar as normas ortográficas dos
países lusófonos e entre eles o Brasil. É uma tentativa de valorizar a Língua
Portuguesa e torná-la mais social e economicamente acessíveis. Mais palpável
para quem escreve e lê em Português ou precisa aprendê-lo como mais um idioma.
Em tempos de globalização, com os meios de comunicação tão desenvolvidos e
informando em tempo real, torna-se interessante e necessário como instrumento
de poder. Mas, não sem resistência.
Afinal, muitos
países falam o Português, mas com seus sotaques prenhes de culturas étnicas nas
suas feições e afeições e, sabendo que a língua mãe é identidade, mudá-la mexe
com brios e subjetividades de um povo. No entanto, os sotaques de cada etnia
permanecerão nas vozes de seus povos. E, sendo assim, na escrita, as normas são
instituídas como controle e tentativa de unificação no uso do idioma.
Sabendo que a linguagem escrita é
forte instrumento de poder e hoje mais do que sempre, haja vista a quantidade
de pessoas que se comunicam virtualmente e por meio dela, são imprescindíveis
as questões: É importante ensinar ortografia nas escolas? E quando começar a
ensiná-la?
Artur G. de Morais defende que cabe a
escola ensinar regras definidas pela sociedade, mas, que antes a criança
precisa se apropriar do Sistema de Escrita Alfabética. Compreender a relação
grafema/fonema e como se apresenta no interior das palavras, a forma das
letras, a direção da escrita na linha e também, principalmente, o conhecimento
e funcionamento da escrita. Mas é necessário ir além.
Escrever como
se fala poderia parece natural. Mas não é!
A escrita é convenção social e cada idioma tem suas peculiaridades
normativas que a criança não descobrirá sozinha, portanto, é importante
ensiná-la. Quando? Como já citamos e
acompanhando o pensamento de Artur, logo que ela se apropriar do Sistema de
Escrita Alfabética.
Como? Quando o
aprendiz começar a perceber que a escrita apresenta restrições que o Sistema de Escrita Alfabético não dá
conta de explicitar e que a ortografia, ou seja, a escrita correta, possui
propriedades regulares e irregulares e que essas possuem níveis de dificuldades
que ele deverá vivenciar e experimentar para construir a consciência
ortográfica e fonológica, relação intrínseca na formação das palavras. Mas é
importante ressaltar que essa aprendizagem não é espontânea. É necessária
intervenções para mostrar o que ele ainda não conhece.
As regularidades e irregularidades
da escrita das palavras estão bem demonstradas e como trabalhá-las têm
sugestões interessantes no livro, objeto de nossas reflexões. Ressalva-se que à
medida que o aluno vai aprendendo novos conceitos com relação às palavras ele
vai construindo subsunçores que o ajudam a justificar as regras ortográficas.
Quando ele se apropria da ortografia a sua escrita se torna mais fluida.
Sendo assim,
ensina-se ortografia, sempre! Porém, não
deverá ser mais importante que o texto escrito com coerência, coesão, estrutura
e o objetivo de comunicar o proposto dentro das características de cada gênero
textual. Torna-se o escritor e leitor capaz, oferecendo subsídios para
esclarecer as suas dúvidas ao longo da sua vida. O dicionário é um
instrumento eficaz para tirar dúvidas sobre ortografia e deverá ser apresentado
e manuseado logo que o estudante já tiver dominado o Sistema de Escrita
Alfabético.
Não se reprova
pelos “erros” ortográficos, mas trabalha-se a ortografia que, sendo norma,
precisa ser aprendida. O que não tem regra precisa ser memorizado. Como? Uma
das boas soluções é ler. O que tem regra pode ser compreendido, com
intervenções próprias, levando em conta o que o aluno já sabe. Na dúvida?
Consulte qualquer meio de pesquisa. Afinal, pesquisar é uma competência
desenvolvida em sala de aula.
E quanto aos
textos escritos produzidos pelas crianças! Deve ser corrigido? O que corrigir?
Como corrigir? Por que e para quê? Pensemos que se escreve para alguém ler e
que o escritor tem apreço pelo que escreve. Como diz o autor do livro, objeto
das nossas reflexões, escrita é identidade, espaço de pontos de vista e
desejos, por isso, torna-se necessário respeito à autoria. Mas a escrita é
feita de normas e para dominá-la é mister conhecer a ortografia e a estrutura
que constituem o texto.
Segundo o
autor, é mais interessante desenvolver a atitude de escrever melhor lendo,
relendo, revisando e reelaborando. E, se possível fazer a correção na presença
da criança. Essa preocupação não deverá ser diária e se fará por meio de uma
atividade planejada e com esse objetivo.
Concluiremos nossas reflexões com o
poema de Pablo Neruda, citado no livro que exploramos e que celebra as virtudes
do dicionário e em qualquer língua. Só a poesia e o poeta para quebrarem ranços
e preconceitos!
Ode ao dicionário
Pablo Neruda
“Dicionário, não és
tumba, sepulcro, féretro,
túmulo, mausoléu,
senão preservação,
fogo escondido,
plantação de rubis,
perpetuidade viva
da essência, celeiro do idioma”
Bibliografia
MORAIS, Artur de Gomes de
Ortografia: ensinar e aprender/ Artur Gomes de Morais. –
5.ed. – São Paulo: Ática, 2009.
136p.: il. – (Palavra de professor)
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-08-12733-7
1. Língua portuguesa – Ortografia e soletração – Estudo e
ensino. I. Título. II. Série. 09 – 5014.
CDD:
469.152
CDU:
811.134.3`354